Comédia
Mais uma obra! Fogos e comemorações! "Comédia" é seu nome. E sua história é curiosa. O Prelúdio 21, meu grupo de compositores, resolveu fazer um concerto com o quinteto de metais da UNIRIO. Naílson contatado, tudo resolvido, é a hora de compormos. Eu, que estou num ano cheio de músicas para compor, me deparei novamente com a pergunta de sempre: E agora? Que música é essa que eu vou compor? Sabe-se lá porque conexões mentais, eu que tenho feito ou planejado recentemente tantas músicas ligadas a Deus (Gênesis, Te Deum, Missa de Natal...), achei que os metais sugeriam uma música que falasse do Inferno. Talvez, a grande impressão que a obra de Dante me causara ("Divina Comédia"), quando a li a coisa de 2 ou 3 anos. Obra de arte imensa. Daí, o impasse. O meu Inferno, diante do de Dante, seria um infernico de nada. Não dava tempo para estruturar uma obra imensa, densa, com uma estrutura super-complexa. Afinal, estamos falando do Inferno, algo que povoa o imaginário com mistérios indeléveis, que só não assusta a alguns políticos e jornalistas - e outros indivíduos que se imaginam além do bém e do mal. Bom, encurtando a história, lembrei da minha série em homengem ao Teatro, que teve como primeira obra "Farsa" (para flauta e violão) e da minha promessa que a próxima seria a "Comédia". E aí a grande ironia de tudo: a Comédia a que me referia agora, não tinha a ver com o gênero teatral. Para colocar mais um ingrediente diverso, e me safar de qualquer análise linear das minhas decisões, resolvi que se era comédia, tinha que começar com uma piada. Pronto! Tinha encontrado a minha saída. O humor é sempre uma saída inteligente, que abre mão do compromisso com a complexidade, com a estrutura, com a grande obra. O humor permite a negação de si mesmo e do humorista. Lembrei então de uma piada que meu colega de Prelúdio 21, Alexandre Schubert, me contou: "O cara morre e S. Pedro pergunta: - Prefere ficar no céu ou no inferno? Numa rápida olhada, diante da calma entediante do céu e da big band, tocando os primeiros compassos de "Take de A train"(D. Ellington) , o índivíduo segue feliz para o inferno. Coloca-se na orquestra entre o Louis Armstrong e o Dizzy Gillespie. Miles Davis (que todos sabem que é Deus), dá a entrada e todos atacam os compassos do tema de Mr. Duke...mas, apenas os mesmos 4 compassos. E ficam nessa a eternidade inteira!". Eis o meu Inferno. O trompete ataca 4 compassos, repete, entra a tuba, 8 compassos que se repetem e assim por diante. Como numa gagueira interminável que dura mais de 2 minutos. Depois, seguindo as divisões dantescas, o purgatório. Outra vez utilizo o recurso de pouca movimentação: um acorde tenso, com notas longas, que vão lentamente se transformando em outras, depurando os pecados, até que, no fim, alcançam a pureza, com todo o grupo tocando a mesma nota. Pra terminar, o paraíso. Aí, me perdoem todos. Já que simplicidade é o mote, fiz uma música linda, melodia acompanhada, surdina em todos, e cada um dos instrumentos apresenta sua versão do céu. A estréia está marcada para o início da temporada 2007 do Prelúdio 21, no dia 25 de junho, às 19h, no Museu de Ciências da Terra do DNPM (Av. Pasteur - Rio de Janeiro).
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