Escolhendo notas

sábado, dezembro 29, 2007

William and Mary

Uma das coisas mais legais nessa viagem foi o encontro com pessoas. Sejam velhos amigos, novos amigos, intérpretes da minha obra espalhados pelo mundo, etc. Na palestra na universidade de William and Mary, na Virgínia, também foi esse o ponto alto. A palestra em si não foi das melhores. Os alunos, apesar de concentrados, pareciam muito despreparados e mal informados. As perguntas feitas não me pareceram perguntas de compositores, e sim de curiosos, diletantes.
Mas uma coisa foi incrivelmente prazerosa: a presença na platéia de Ruth van Baak Griffioen. Ruth é professora da universidade, especialista em J.S. Bach e estreou minha obra "Echoes", para duo de flautas doces, com Tom Moore. Foram dela as melhores perguntas, foi pra ela que direcionei a palestra. E, foi com ela e com o Tom que almocei num restaurante muito gostosinho, onde a conversa foi boa, simpática, descontraída. Essa foto foi tirada na entrada do restaurante. É dela que tenho mais saudade, nessa viagem à Virgínia. E é claro, do Miles Davis, no carro com o Tom.

A encomenda que eu não recebi...


Nessa viagem, tive o prazer de conhecer muita gente nova. E, como já falei, a viagem foi mesmo mágica. Pessoas que em poucas horas passei a considerar grandes amigos. Entre essa gente, está a família Ilana: Hermes, Márcia e a pequena Júlia. Passeamos numa tarde, almoçamos num outro dia, ganhei um boné do Hermes (que apesar de ser o departamento da minha filha aqui em casa, já usei só pra matar a saudade) e eles me receberam uma tarde em sua casa.
Não sei se era saudade da minha pequena Laura (já não tão pequena assim), mas a Júlia, com seus 10 anos de idade me encantou. Não só por ser inteligente e talentosa (tive a oportunidade de ouvi-la tocando teclado e violoncelo), mas também por sua gargalhada gostosa - típica de uma menininha de 10 anos (imaginem que gostoso, se essa foto tivesse som...).
Bom, acontece que eu, nesse ponto da minha carreira de compositor, me considero um afortunado. Há diversos músicos (da pesada!) esperando por obras novas, e as encomendas não param. Eu atendo sempre o mais rápido que posso, mas assim como para produzir um bom vinho, uma nova música precisa de um certo tempo de maturação. Mas, além disso, como os pedidos são realmente muitos, a demora às vezes é maior do que eu desejaria. Nem preciso dizer que, hoje, só componho nessas condições: se um bom músico me pedir e me garantir a estréia da obra. Ou o dinheiro tem que valer a pena.
Mas, diante do charme e do talento dessa menininha, não resisti: ofereci a ela uma nova composição para violoncelo solo. Comporia uma música bem bonita, só dela, pra ela tocar à vontade. Já imaginava a menina feliz com a proposta, já me via escrevendo a música mas... ela recusou! Disse, com todas as letras, que não queria que eu compusesse uma música para ela. Eu ainda adverti: olha, que tem um monte de músicos bons querendo... e ela não se abalou. Sempre simpática: não, obrigada...
É, às vezes é preciso uma linda menininha de riso fácil pra manter a gente humilde. O mais bacana é que não fiquei triste ou com raiva. Um pouco decepcionado, é verdade. Mas é mais um motivo que eu tenho na vida (dentre tantos outros), pra querer ser um compositor bem sucedido: poder, um dia, ter uma música encomendada pela pequena Júlia.

quinta-feira, dezembro 27, 2007


A palestra em Chappel Hill tinha tudo para ser muito bacana: além do infalível Tom, estavam Deborah (minha comadre), o pequeno Lucas Benjamim (meu afilhado, ainda bebê, filho de Tom e Deborah) e a Dani e o Cleibe (que já apresentei pra vocês, né?). Mais que isso, a sala estava cheia! (umas 80 pessoas...). Pela primeira vez, não iria falar para uma turma de compositores, mas de pessoas que estudam música latino-americana. Mas não foi nem um pouco menos empolgante. É verdade que as perguntas eram menos técnicas, mas ainda assim, aquela gente toda concentrada, aquela vontade de conhecer algo que não faz parte do universo deles foi muito boa. Ou seja, correspondeu a todas as espectativas, com sobras. Pra coroar, o meu pano de fundo era esse belo órgão que aparece na foto.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Viagem no tempo



Essa viagem estava sendo mesmo mágica. Incrível. Não bastasse a estréia de "Colors" pelo Mélomanie, não bastasse a palestra na cidade do Daniel Boone (em plenos montes Apalaches!), não bastasse viajar ouvindo Miles Davis e topar com o trompete do cara, ainda tinha muito mais por vir. A minha próxima palestra seria na Universidade de Chappel Hill. E eis que recebo um e-mail de uma certa Dani, dizendo que morava em Chappel Hill, que legal, que ia assistir a minha palestra...mas, peraí!!! Que Dani??? A Dani, que estudou comigo, lembra, no primário...MEU DEUS!!!! Era A Dani!!!! No primário, no maravilhoso Baby Garden (a quem devo o meu senso crítico, por ter estudado lá dos 3 aos 10 anos - exemplo seguido pela minha filha), eu gostava de todo mundo: do Marcílio, Sólon, do Ricardo, do Arthur, da Alexandra, do Patrick e de muitos outros amiguinhos que a memória agora não vai liberar...mas havia uma inegável panela: eu, Xande, Paty, Sabrina e.... Dani!! Todos os outros, eu tinha voltado a ter contato. Mas a Dani eu não via havia 27 anos!!!! Foi muito legal! Conversamos um monte, relembramos um monte e, claro, nos (re)conhecemos um monte. O mais incrível é que realmente as pessoas são 80% do que serão aos 10 anos de idade. Eu não sabia nada da vida da Dani nos últimos 27 anos. Mas era a mesma Dani, o mesmo sorriso, o mesmo olhar, a mesma pessoa fácil de gostar. Como se não bastasse, a Dani me deu de presente um novo amigo: Cleibe, seu marido. Juntos, fizemos uma inesquecível roda de samba e conversamos muito. Sem dúvida, a melhor surpresa de toda a viagem. (Foto: Dani, Cleibe e eu)

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Palestra em Greensboro


A Palestra em The University of North Caroline Greensboro foi no mesmo dia da palestra na North Caroline State University (em Releigh). Mais uma viagem. O lugar é muito bonito e arborizado. Tom notou com espanto o número de pessoas falando ao celular. Muitas. Achei curioso também a diferença dos alunos entre as universidades. Cada uma com um perfil diferente. Em Greensboro achei todos com alguma coisa meio nerd, sei lá. Mas no mal sentido. Todos meio que no seu universo individual. Não foi à toa que a maior parte das perguntas partiu dos professores (com os quais tomamos um animado chopp depois!). E também não foi à toa que, assim que terminou o horário da aula, todos ficaram ansiosos para sair para seu próximo compromisso. Mas valeu pela atenção realmente que me deram durante o tempo da aula. Pelas perguntas dos professores. E pelo chopp depois.

Eu e o trompete do Miles


Nessas minhas palestras, tive sempre como companheiro, motorista (e fotógrafo!) o meu amigo Tom Moore. Tom, além de flautista e professor de música é também o bibliotecário de música da Duke University. Na véspera de sairmos para a primeira palestra, Tom chegou animado com uma caixa de 6 CDs com gravações (muitas delas inéditas) de Miles Davis. Seria a trilha sonora para as nossas várias viagens. E assim fomos, horas e horas de outono na estrada, ao som de Miles e sua banda. No nosso 2o. dia de viagem (depois da longa e agradabilíssima viagem à Boone), fomos a Reighley e de lá, após a palestra, direto para Greensboro. Tudo ao som de Miles. Estávamos nos dirigindo à sala quando topamos com um trompete. Fomos ler a plaqueta e quase caímos pra trás: era o trompete de Miles Davis!!!!!!! Nós que vínhamos ouvindo sua música, ficamos encantados! Não sei se vai dar pra vocês lerem a plaquetinha, mas diz o seguinte: "This trumpet, once owned by Miles Davis and used on the historic masterpiece Kind of Blue (...)" . Pra mim, foi mais um sinal de que essa seria uma viagem mágica!

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Palestra na North Caroline State University (Reighley, NC)




No dia seguinte à palestra na Appalachian State, foi a Reighley, para a segunda palestra. Lá, encontrei o Rodney, professor e a pessoa que estava me convidando para a palestra. Simpático, inteligente e preparado. Conhecia música brasileira e fez uma ponte muito interessante entre o que eu falava e o que os alunos conheciam e deveriam conhecer. Foi também uma experiência das melhores. Os alunos mais uma vez interessados, e com perguntas inteligentes. O que é mais legal é a sensação que fica de não só ter feito uma palestra que interessou às pessoas, não só ter divulgado a minha música, mas ter também cravado uma bandeira brasileira na cabeça daquelas pessoas. Certamente passam a saber que não somos só futebol e carnaval (que eu adoro! Mengo! Manga!). E alguns deles irão procurar saber quem é Guerra-Peixe e Luiz Gonzaga. O que é Choro e o que é Baião. E que país maluco será esse, em que uma cultura tão genial se esconde tanto do resto do mundo.

sábado, dezembro 08, 2007

Palestra na Appalachian State University

Quem tem a minha idade ou um pouco mais, deve se lembrar de uma série americana, que retratava o Daniel Boone. Pra mim, o desbravador não passava de personagem da TV, mas depois soube que o programinha era baseado na história de um sujeito que realmente existiu. Pois não é que a minha primeira palestra dessa viagem foi na cidade de Boone, que tem esse nome em homenagem ao Daniel? Mais que isso: a cidade fica no alto dos Montes Apalaches, outra referência da minha infância, dos filmes e programas americanos... Lá fomos nós (Tom e eu), fazer essa viagem, que mais do que no espaço, parecia no tempo. Ou ainda em outras dimensões. A fantasia, de certa forma, tornava-se realidade.
A viagem foi agradabilíssima, a paisagem é linda. Sobre a palestra, também não posso me queixar. Embora não houvesse um número imenso de alunos, eram atentos e concentrados. Mais que isso: preparados. No meio das perguntas, um aluno me indaga sobre minha Suíte para Cordas. Respondi mas fiquei encafifado: eu não tinha citado a Suíte na palestra. No final, não agüentei e perguntei ao estudante de onde ele conhecia a minha Suíte. Afinal, a obra já foi executada 2 vezes nos EUA, e já há outras orquestras de lá interessadas. Mas o sujeito simplesmente resolveu se preparar antes da palestra. Como sabia que eu daria essa palestra, resolveu buscar na internet, entrou no meu site, leu sobre mim e ouviu as músicas disponíveis. E se encantou com a Suíte. Muito legal. Ah, legal também a presença de uma aluna portuguesa, que trocou umas palavras comigo em nossa língua-mãe.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

A estréia de 'Colors'


A primeira parada da minha viagem foi em Wilmington, Delaware, EUA. Lá, fui ver de perto uma das grandes conquistas da minha carreira: a estréia de uma encomenda do grupo Mélomanie. Tá certo, era a terceira vez que o grupo me encomendava uma obra. Mas essa foi a primeira vez em que pediram uma música para o grupo todo. E ainda com convidada especial! Fiz uma obra sobre cores, assunto totalmente misterioso para mim, que sou daltônico de nascimento - como qualquer outro daltônico. Enfim, li sobre o assunto e fiz uma música que dividi em 3 grandes partes: Goethe (autor de estudos sobre cores que até hoje são importantes para artistas plásticos), Dalton (tinha que colocar minha visão especial sobre as cores, né?) e Newton (que fez a primeira e mais importante teoria sobre cores). Fui convidado para estar presente na estréia e falar, junto com a Tracy Richardson (cravista e uma das diretoras do grupo), sobre a obra. Bom, o grupo, como era de se esperar, arrasou. E a platéia, muito gentilmente, não só riu das minhas brincadeiras como concedeu ao grupo, após a minha música, mais de 2 minutos de aplausos ininterruptos. Depois, Tracy Richardson e Mark Hagarty (marido da Tracy e GRANDE compositor - não necessariamente nessa ordem...), receberam todos em sua casa, onde pude tirar essa foto. Foto: Donna Fournier (viola da gamba), Fran Berge (violino), Linda Kistler (violino - convidada especial), Sergio Roberto de Oliveira (composição - eu!!!), Douglas McNames (violoncelo), Tracy Richardson (cravista), Kimberly Reighley (flauta).